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NOITE DE MIMONA NA ESNOGA: CONHEÇA E CELEBRE

MIMONA

1) Há uma tradição que explica a origem de Mimona. Este seria o dia do aniversário de falecimento da Rabi Maimon Ben Yossef, pai de Maimônides.

Rabi Maimon (de onde deriva o nome da festa: Maimuna, Minuna ou Mimona), era um grande estudioso do século XII e vivia na cidade marroquina de Fez. Tendo em vista seu especial prestígio junto ao Governo e ao povo marroquino (era considerado um grande sábio), ele teve um trabalho importante dedicado a melhorar as relações entre judeus e islâmicos, facilitando a convivência pacífica e aliviando muitas vezes a tensão de milhares de seus irmãos.

A festividade começa logo após o final de Pessach com alimentos simbolizando nascimento e fertilidade, ex. leite, ovos, azeite, mel, tâmaras, panquecas, doces, feijões verdes, peixe, trigo, etc. além dos tradicionais biñuelos e mufletas. É famosa também nas mesas de Mimona nos lares dos descendentes de judeus marroquinos a bacia com massa de pão crua que vai crescendo gradativamente adornada com muitas moedas, ouro e prata. É costume ir-se alegremente de casa em casa visitando os amigos e recebendo do Baal Habait (dono da casa) uma Mishaberach (benção) sobre uma tâmara ou alface com mel que era ingerida pelo visitante.

As cidades se tornaram grandes, as distâncias cada vez maiores, o tempo das pessoas foi ficando escasso e por isso, para não perdermos esta preciosa tradição, em Manaus há muitos anos fazemos uma grande festa comunitária na Esnoga, após o Arvit de Lemotsaei Pessach (saída de Pessach) com todos os símbolos citados acima e congraçamento entre os membros da kehilá.

A saudação tradicional de nossos antepassados para esta data e que tentamos continuamente transmitir é: BUENAS SALIDAS DE PÁSCUA !

Isaac Dahan

Chazan / Shaliach Tsibur da Comunidade

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2) Mimona, a noite da Fé
Por: David Salgado

Apesar de sempre ter participado dos festejos de Mimona na minha cidade natal (Manaus-Amazonas no Brasil) e depois em Belém, aonde passei a viver antes de fazer Aliah com a minha família, admito que Mimona para mim sempre foi uma incógnita. Dentre todas as comemorações do nosso calendário, era Mimona a que menos informação e compreensão de seu verdadeiro motivo pude adquirir, já que poucos sabiam explicar seus "porquês". Assim, cresci sem conhecer maiores detalhes sobre esta noite tão especial.

É por isso que estando em Israel passei a pesquisar sobre Mimona e gostaria de compartilhar com o leitor um pouco do conhecimento adquirido nesses últimos meses.

Primeiro o que mais me deixava intrigado era a origem do nome desta festa:
Existem muitas explicações para esse fim, a mais comum é a que diz que Mimona vem do nome de Rabi Moshe ben Mimon que era o pai de Rambam e que havia falecido exatamente neste dia, no dia de Mimona.

Outra explicação afirma que o nome Mimona vem da palavra árabe "mimon" que significa "sorte ou sucesso", porque acreditam que nesta noite os portões dos céus estão abertos e que D-us recebe toda Oração e todo Pedido, é um dia de muita sorte. É também por esse motivo que na noite de Mimona comemos e decoramos a mesa com coisas que lembram bênção e que trazem sorte e abundância como o mel, o leite, o trigo, os ramalhetes verdes (espigas de trigo), peixes e coisas doces. O cumprimento mais comum nesta noite é o desejo de "Sucesso e Boa Sorte".

Uma terceira explicação para esta festa vem do hebraico com a palavra Emuná (Fé) que tem sua raiz bem próxima a palavra Mimona. A primeira Gueulá (Salvação) do povo aconteceu no Egito no mês de Nissan assim também a última Gueulá virá em Nissan. Por isso temos que ter fé que o Messias virá em Nissan e como já estamos no sétimo dia de Pessach, mais da metade do mês já passou e ainda não veio a Salvação, festejamos Mimona para aumentar a nossa fé na Gueulá do Povo de Israel.

Também gostaria de saber porque dessa comemoração no último dia de Pessach? Qual a ligação de Pessach com Mimona?

Apesar de ha séculos Mimona ser comemorada em quase todas as comunidades Sefaraditas, sua origem está nas comunidades judaicas do Norte da África no século 18 e tinha um primeiro nome de Noite da Fé (Leil Emuná).

A saída do Egito é comemorada no dia 15 de Nissan, quando o Faraó após a última praga, a dos primogênitos, liberta os judeus. Não demorou muito e ele se arrepende e começa a perseguir o Povo Judeu. Quando os egípcios chegaram às margens do Mar Vermelho, já era o sétimo e último dia de Pessach. Logo, quando viram Bnei Israel, que os egípcios estavam bem atrás de si e o mar bem a sua frente, pensaram que a saída do Egito tinha sido em vão e que eles retornariam para lá como escravos ou morreriam ali. Mas quando viram o grande milagre; o Mar Vermelho se abrindo, o povo atravessando ao seco e os inimigos se afogando no Mar, só então acreditaram em D-us e em Moshe seu servo. Um momento de muita fé.

Portanto se prestarmos atenção nos costumes de Mimona veremos que muitos deles têm ligação com o milagre da travessia do Mar Vermelho.

a) Festeja-se Mimona logo após o último dia de Pessach exatamente no dia da Travessia do Mar Vermelho.

b) Costuma-se ir a praia na manhã seguinte a noite de Mimona já que o milagre ocorreu no Mar.

c) Costuma-se colocar um peixe inteiro na mesa de Mimona em lembrança da travessia do Mar que se abriu para a passagem do Povo Judeu.

A tradição de manter a porta aberta em Mimona é porque nesta noite costuma-se visitar e também ser visitado pelos amigos, parentes e outros mais que apareçam sem a necessidade de um convite. Visitar e também ser visitado, é para degustar os diferentes sabores das delícias da mesa de Mimona, existiria um motivo melhor do que esse?

Existe uma explicação histórica que diz que como na noite do Seder nossos antepassados no Egito tiveram que fechar as portas depois de marcá-las para que o anjo da morte não os visitassem, assim em Mimona, após o Pessach, abrimos nossas portas para que a Gueulá possa entrar.

A mesa para Mimona tem um singular preparo e objetivo. Indiferentemente de sua origem, os costumem são aproximadamente esses:

Coloca-se uma toalha branca e decora-se com ramalhetes verdes toda a mesa. Esse costume de decorar a mesa com ramos que geralmente são espigas de trigo é para lembrar o "Korban Haomer", no segundo dia de Pessach, a oferenda do Ômer (da nova colheita de cevada) era trazida ao Templo Sagrado, em Jerusalém.

Alguns costumam acender velas sobre a mesa. Um prato grande e fundo com uma massa especialmente preparada de trigo com óleo e água, essa mesma massa posteriormente serviria para fazer os novos pães. Moedas de prata e ouro são enfiadas dentro da massa na esperança de ver seus pedidos se multiplicarem como a massa que fermenta, alguns costumam colocar seus anéis de casamento e desejar que venha o filho tão esperado em breve e com saúde. Leite, mel, manteiga, frutas secas e doces diversos.

O peixe é tradicional na mesa de Mimona, lembra fartura e tem sua ligação com a travessia do Mar Vermelho, alguns costumam colocar peixe vivo dentro de uma bacia com água. E Mimona não é Mimona sem as tradicionais mufletas, pequenas rodelas de massa assadas e banhadas em mel e manteiga.

Para quem pergunta, assim como eu, como é possível fazer todos esses quitutes em tão pouco tempo, entre uma hora após a saída da Páscoa e a chegada dos visitantes, já que em Pessach é proibido ter chametz em casa e muita dessas delícias levam trigo, aqui vai uma resposta.

Primeiramente, devemos acabar de uma vez por todas com a idéia de que depois do meio-dia já se pode deixar entrar trigo em casa, isso é totalmente errado, estaríamos cometendo o pecado de ter chametz em casa, conscientes e em pleno Pessach. No Marrocos, o que acontecia, é que os árabes já conhecendo nossas festas, preparavam as espigas de trigo, o próprio trigo, a manteiga e levavam para vender aos judeus nos "melahs" ao findar o Chag. Com o material em mãos, as donas de casas com impressionante habilidade corriam para preparar seus quitutes. Hoje em dia os judeus na Diáspora também podem adquirir dos goim sem muita complicação, mas se quiserem, podem fazer como algumas donas de casa fazem em Israel: aqui aonde deveria ser um pouco mais complicado já que não temos o goi, o problema foi solucionado com o preparo de todas as massas necessárias antes de Pessach e vendendo-a ao goi através da "venda do chametz", logo, uma hora após a saída do Chag, esse material é retirado do lugar que foi fechado antes da Páscoa e pode ser usado para Mimona.

Mimona tornou-se uma festa nacional em Israel

Em Israel os judeus do Norte da África depois que fizeram sua imigração nos anos 50 e 60 continuaram comemorando a Mimona em família. No ano de 1966 aconteceu a primeira tentativa de fazer Mimona de maneira mais ampla e popular. Com os anos, os festejos da saída de Pessach se espalharam por todo o país. Hoje em dia Mimona é comemorada em cerca de sessenta cidades e principalmente na capital, em Jerusalém, com a presença do Primeiro Ministro, do Presidente e de outros inúmeros políticos. Na verdade este caráter político acabou por tornar a festa de Mimona bem menos original e fez com que perdesse o seu brilho mágico incomum.

De qualquer maneira, seja qual for o seu costume, a sua maneira de fazer e comemorar sua Festa de Mimona, não podemos jamais deixar acabar essa tão especial e tradicional festa que outrora pertenceu aos judeus norte-africanos, mas que hoje em dia é comemorada por todos os israelenses e inúmeras comunidades na Diáspora.

Sucesso e Boa Sorte!

PUBLICADO EM NOSSO INFOMRATIVO # 70

http://www.youtube.com/watch?v=sE-UtGQmwZo&featu re=player_embedded

Veja explicação dada pelo Moreh e nosso Shaliach Tsibur Dr. Isaac Dahan sobre a tradição da Mimona, postada no youtube por Anne Benchimol


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